terça-feira, 29 de julho de 2008

O caminho de Genoino: da guerrilha para o socialismo reformista no Congresso brasileiro

Artigo escrito por Ted Goertzel
(novembro de 2007)


A vida de José Genoino retrata a trajetória da esquerda brasileira no último meio século. Nascido em uma família pobre, em uma pequena cidade do Ceará, Genoino calçou seu primeiro par de sapatos quando tinha quinze anos. Um padre o ajudou a estudar e a IBM ofereceu a ele a chance de entrar em um programa de trainnes.

Mas Genoino abandonou a religião e a chance de uma carreira corporativa quando se tornou líder em uma resistência estudantil contra a ditadura. Se uniu a uma mal sucedida guerrilha ao longo do rio Araguaia onde foi capturado, aprisionado e torturado.

Quando foi libertado, rompeu com o Partido Comunista do Brasil devido à sua crença de que o partido estava cometendo uma distorção histórica e iludindo seus seguidores ao glorificar os guerrilheiros ao invés de aprender com as suas derrotas.

Banido por seus ex-companheiros, ele se uniu a um grupo dissidente chamado Partido Revolucionário Comunista que funcionava como uma facção Leninista dentro do Partido dos Trabalhadores. Nesta época, ele se opôs à reforma democrática dentro do sistema burguês, para construir uma revolução rumo ao socialismo.

Entre o Sonho e o Poder (Geração, 2006) é um conjunto fascinante de entrevistas realizadas com Genoino por Denise Paraná, escritora mais conhecida pelo livro Lula: O Filho do Brasil. Denise usa habilmente as entrevistas para contar a história de um movimento que fracassou como revolução, mas foi fundamental para as políticas democráticas.

A sua autobiografia foi bem fundamentada por Maria Francisca Pinheiro Coelho em José Genoino: Escolhas Políticas (Centauro, 2007), uma bela biografia investigativa. Maria Francisca detalha a vida de Genoino desde seus dias de estudante radical e guerrilheiro até sua presidência no Partido dos Trabalhadores e na legislatura brasileira.

Ela não tenta, porém, julgar seu alegado envolvimento no escândalo do mensalão, uma questão que ainda está nos tribunais. Ao contrário, permite que ele apresente sua versão dos fatos em suas próprias palavras.

A ruptura com o Partido Comunista não foi a única mudança na vida de Genoino. Em 1989, ele se colocou na direção oposta e rompeu com o Leninismo em muito por conta do colapso “do socialismo real” no socialismo no Leste Europeu.

Ele recorda que ficou profundamente comovido quando assistiu na TV “a cena da Praça da Paz Celestial, os estudantes sendo massacrados cantando a Internacional e a Nona Sinfonia de Beethoven, e os tanques do Estado socialista passando por cima, fiquei a noite inteira sem dormir. Por quê? Porque eu me lembrava dos companheiros que morreram no Araguaia e que, quando morreram, achavam que a China era o referencial.”(de Fernando Portela, Guerra de Guerrilhas no Brasil: A Saga do Araguaia – Ed. Terceiro Nome, 2002, pg.29).

Quando Genoino rompeu com o Leninismo, ele deu uma longa entrevista ao jornalista Mauro Lopes, que foi publicada na Folha de S. Paulo e teve grande repercussão na época. A entrevista foi reproduzida em Repensando o Socialismo (Brasiliense, 1991), que é difícil de ser encontrado atualmente.

Nela, ele enfatiza que a questão da liberdade deve ser colocada como o centro do projeto socialista. Rejeita a ditadura do partido único e afirma que os estados socialistas devem estar abertos a diversos tipos de tipos de propriedades privadas, inclusive as empresariais. Ele desafiou a esquerda a encontrar um modelo no qual a social-democracia européia seja de esquerda e sem comprometer a democracia de direitos.

Mais uma vez, Genoino foi repudiado por muitos de seus companheiros nessa época porque teria passado para “direita” e abandonado a “esquerda”. Como Maria Francisca Pinheiro Coelho observa, “com raras exceções, a esquerda brasileira na verdade se recusou a fazer uma análise crítica dos eventos (no Leste Europeu). Para não entrar em conflito com sua teoria, eles preferiram não aprender com a prática.” (p.31).

Genoino estava no ponto mais delicado de sua vida quando Denise o entrevistou. Ele tinha renunciado de seu cargo na legislatura federal para concorrer à governador de São Paulo e quando perdeu a disputa se tornou presidente do Partido dos Trabalhadores. Mas renunciou à presidência do PT quando foi indiciado no escândalo do mensalão, embora ele negue qualquer infração.

Como presidente do partido, assinou alguns dos empréstimos que foram usados para pagamento de deputados. Ele afirma que esses pagamentos eram de contribuições para a campanha, não suborno. Também foi prejudicado por problemas com um de seus irmãos, mesmo não estando diretamente envolvido com o caso. Ele temeu que sua reputação tivesse sido destruída.

Quando eu o entrevistei no começo deste ano, seu espírito estava recuperado. Ele foi reeleito deputado federal e estava preparando seu retorno à Brasília. O legislativo sempre foi um canal perfeito para seus talentos políticos e de retórica.

O Partido dos Trabalhadores também tem caminhado muito mais nessa direção que ele defende, com um programa nacional que contempla o socialismo, mas sem comprometer a democracia.

Quanto ao Genoino, ele diz “se me perguntarem o que eu sou hoje, responderei: Eu sou um democrata e, depois de ser democrata, eu sou um socialista.”

Marxistas sempre buscam como combinar teoria e prática em suas vidas. Genoino tem feito isso.

Ted Goertzel, é PHD, professor de Sociologia na Rutgers University em Camdem, Nova Jérsei. É autor da biografia de Fernando Henrique Cardoso, disponível em inglês e português. Ele também pode ser contato no e-mail goertzel@camden.rutgers.edu ou goertzel@camden.rutgers.edu e seu clique aqui para visitar seu site.

Tradução: Cilene Marcondes

Texto Original em ingles. Clique aqui

Nenhum comentário: